O trabalho dignifica ou escraviza o homem?

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Os profissionais brasileiros são campeões quando o assunto é jornada de trabalho extensa. 60% dos empregados trabalham mais de 8 horas. Em seguida estão os mexicanos, seguidos dos peruanos, neo-zelandeses e indianos, nesta ordem. Esta pesquisa, da empresa de escritórios virtuais Regus, foi publicada na semana passada em um jornal gratuito daqui.

Isso não é novidade, claro. Só corrobora com o que presenciamos no dia a dia. E, fato, muito difícil conseguir trabalhar apenas as 8 horas diárias estabelecidas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). No Brasil eu tinha uma rotina tão doida na redação, que só hoje consigo ter clareza sobre os efeitos dela no meu corpo e na minha cabeça. Motivos mil: carga de trabalho puxada, muitas vezes, falta de organização com as tarefas do dia, muita reunião ou, simplesmente, a paixão pelo o que fazia, que me levava a ficar horas a mais por ali, só pra ver um projeto sair do papel.

Acho que isso acontecia comigo e acotece com estes mais de 60% de profissionais que não trabalham pra viver, mais vivem pra trabalhar (clichê, mais é o que acontece). Hoje, vivendo uma outra realidade neste meu, digamos, sabático, vejo isso com mais clareza. Dentro do meu projeto de vida “México”, tirar o pé do acelerador e reaprender a ter uma relação boa com o trabalho, redescobrindo hobbies, paixões, buscando formas diferentes de aprender e, por que não, me conhecendo melhor!

Não vou dizer que está sendo fácil. Nem um pouco. As vezes me sinto como um carro que vinha a 150 quilômetros por hora em uma estrada e que, repentinamente, bateu em um poste. Parada brusca. Há dias de tristeza, de dúvida, de irritação e, sim, de alegria e paz. Acho que é normal. O importante é sentir que, aos poucos, estou atingindo meu propósito. E essa sensação,sim, é impagável.

Claro que quando voltar ao Brasil ou ao mercado, certamente haverá dias com horas extras, finais de semana de trabalho, mas tenho certeza de que o resto da minha vida terá um ouro gostinho, que talvez eu não conhecesse sem esta mudança. E aí, por que não tentar?

Uma resposta »

  1. Reba, muito bom seu texto. De fato precisamos adotar uma outra postura por aqui, o slowdown seria bom, mas tudo que é radical, produz cicatrizes mais profundas…mas algo mais suave, onde pudéssemos ter um trânsito mais amigável, uma população menos estressada, propensas a prática de esportes….enfim…talvez um mundo surreal por aqui, mas continuaremos tentando efetivar a mudança!!!
    Grande abraço!!! Enzo, Laysa e Rapha!!!

    • Rafinha, isso com certeza ajudaria. O mundo está doente e o trabalho, que deveria ser uma fonte de prazer, acaba tendo forte influência nisso. Muita gente infeliz, doente, família separadas pelo trabalho em excesso dos pais, enfim. Devemos buscar o equilíbrio!!!!

      Saudades de vcs! Pena que não conseguimos nos ver antes de eu vir….bjs pros três

  2. Rê, seu texto faz todo o sentido com a vida em uma multinacional. Não acho que a vida profissional será menos exaustiva, menos trabalhosa, menos árdua, que teremos menos reuniões, menos cobranças, menos pressão, enfim…O que eu realmente acredito é que tudo isso pode, sim, coexistir com uma boa relação vida x trabalho. Aliás, nem colocaria o “versus” nesta relação, mas sim um sinal de “+”: vida + trabalho. Não há vida sem ele e não há trabalho sem vida. Não são as empresas que colocam a pressão sobre seus funcionários, não é a empresa que exige resultado acima de tudo, que marca as reuniões. Somos nós mesmos! Nós formamos as empresas e elas são formadas por nós!
    Assim, minha fé está no fato de que se a mudança de comportamento diante de nossa jornada depende única e exclusivamente de nós! Se conseguirmos saber dizer não às interrupções (infinitas), a telefonemas despropositados, e, por outro lado, conseguirmos manter nosso foco durante 80% do nosso tempo no escritório (20% de ócio é saudável, e criativo, segundo alguma pesquisa que li recentemente), poderemos, sim, ter um equilíbrio em nossa vida como um todo.
    Não é fácil, mas esse é o desafio que pode fazer a diferença dentro de uma organização. Mudando nosso próprio modo de agir, poderemos, quem sabe, mudar nossa vida, nosso trabalho, nosso departamento, nossa área, nossa gerência, nossa diretoria e, quem sabe, nossa organização…
    Bjos!

    • Com certeza, Fê! Acredito muito nessa coexistência e na co-responsabilidade de cada um em começar a mudar isso, simplesmente não aceitando as “regras do jogo” em alguns casos. Muitos profissionais confundem a necessidade esporádica de ficar mais tempo no trabalho por conta de um projeto ou uma fase, com o hábito de fazê-lo. Tem gente que fica 10, 12 horas no escritório pelo simples costume de ter sempre feito isso ou, pior, por ser esse um senso comum no trabalho (uma questão associada à imagem). Péssimo!!!

      • se o exemplo nao vem de cima, eh como nadar contra a mare. por isso, eh a nossa geracao que sera responsavel por esta mudanca!

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